quarta-feira, 9 de maio de 2012

Grata aos Mestres que a vida nos traz

Quando o Universo, sabiamente, nos cruza com as pessoas podem mudar a nossa Vida, a maior parte das vezes, não estamos nem atentos, nem preparados para os ensinamentos que elas têm para nos oferecer.

Esses arautos da nossa evolução vêm vestidos de anjos ou mendigos, uns falam a nossa língua outros não; uns são esguios, outros compactos; uns ignorados, outros brilhantes; uns populares e até célebres, outros vivem como eremitas afundados em bibliotecas de conhecimento e de pó.
São pessoas doces com olhares cristalinos, outros, pessoas menos doces, mas incisivas, pessoas duras que viram amorosas, pessoas amorosas que amargam... Todos os dias elas nos são postas no Caminho e todas, sem excepção, trazem algo que nos ajuda a crescer e a evoluir.


Muitas, esquecemos (ficam para trás, junto com as primeiras cartas de amor que nos foram escritas escondidas algures dentro de uma caixa de sapatos num sótão entregue às aranhas e suas teias), outros, permanecem. Permanecem porque nos marcaram. Deixaram os seus nomes, as suas palavras, o olhar ... Permanecem porque deixaram a sua presença gravada em carne viva nos registos da nossa memória (tão (estúpida?)/sabiamente selectiva).

Pode parecer um cliché, não deixa de o ser. Mas não é por ser um cliché que o seu sentido é menos verdadeiro.


Aos 17 anos, entrou na minha vida uma Criatura de olhar doce e amoroso, voz de mel e corpo franzino que parecia um Anjinho caído do Céu, muito delicado, mas com muita sabedoria e um Amor tão grande dentro dela que a mim, me ardia o coração de a ouvir falar.

Ensinou-me coisas tão importantes como "o que era respirar" e foi com ela que fiz as minhas primeiras meditações. Saia das aulas dela parecendo que não andava... Levitava...
Essa minha primeira professora de yoga marcou-me profundamente. Na altura, contudo, eu era demasiado tímida para lhe perguntar o que era aquilo, porque é que fazer aqueles exercícios me fazia tão bem... e acima de tudo, de onde vinha aquele amor tão grande que ela trazia no peito... e porque usava ela tantas vezes a palavra "aceitação". Eu, na altura, limitava-me a fazer as aulas e sair, de olhos postos no chão, com vergonha de lhe fazer perguntas e de lhe dizer que gostava muito dela.

O tempo e todo aquele rol interminável de "coisas" que acontecem nas nossas vidas, encarregaram-se de fazer com que eu perdesse o rasto a essa Criatura maravilhosa. Muitos anos se passaram, depois disso. Outros professores, outras técnicas, uma vida C-H-E-I-A de coisas,  mas a mesma ânsia e a mesma sede... e aquela Criatura nunca se despegou da minha memória.

Se a magnífica roda da Vida se encarregou de nos separar é também a ela que devo o nosso reencontro... Passados 15 anos voltei a deixar os sapatos à porta da sala e entrei de pés nus naquela aula com a convicção absoluta de que algo de mágico se iria passar e que, de certo modo, iria "regressar" a casa.

Não levitei, mas quase. No final, consegui fazer aquilo que nunca tinha feito quando era miúda... Dei-lhe um abraço, um beijo e contei-lhe que, através dela, através da semente que ela tinha deixado em mim, com a sua calma, a sua doçura e o seu Amor, a minha busca no yoga nunca parou.
Mesmo nos momentos em que o meu corpo rejeitou ser instrumento da minha evolução.

Nestas alturas (sabendo eu que deveria ser SEMPRE) o meu sentimento de Gratidão por essa energia tão maravilhosa, que tudo Une e Separa, é Maior e eu ajoelho-me, insignificante, em reverência e entrego-me a esse processo a que tantas vezes resisto, e que se chama Vida.

Num dia de Mercúrio à 3ª hora de Mercúrio

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